Girls: Father, Son, Holy Ghost

Quando “Hellhole Ratrace” começou a ganhar elogios nos blogs americanos, na metade de 2009, as matérias sobre o Girls eram sempre ilustradas por uma foto do líder, Christopher Owens, usando uma camiseta do Nirvana. À época, parecia curioso, se combinado ao humor do single, melancólico-resignado, com instrumentação shoegazer. Com o álbum completo, a imagem parecia fazer um pouco mais de sentido, à medida que a dupla revelava, não totalmente, certa sintonia com o rock americano dos anos 90, incluindo o rock de moleques que usavam camisa do Nirvana (mesmo que metaforicamente). Agora, no segundo disco, fica ainda mais claro: o Girls é mesmo uma banda de rock americana dos anos 90.

Por isso, a aclamação de um disco de rock classicista como “Father, Son, Holy Ghost” pelas publicações musicais modernas é de certa maneira surpreendente, levando em conta o aparente asco que jornalistas do tipo tem da geração X. Talvez porque Owens entregue ao ouvintes canções de reverência disfarçada, à moda das bandas de rock da época (não estamos falando de Black Crowes), como as relações entre Neil Young e Built to Spill ou Pearl Jam, Pixies e Nirvana, Black Sabbath e Soundgarden: música claramente referenciada mas com a cara do momento em que foram criadas. Se a habilidade serve para criar números de personalidade como “Vomit” (que começa como uma reprodução fajuta de “Street Spirit” e ressurge na esperteza da combinação do vocalise gospel/RnB com distorção) e “Love, Like a River” (blues de natureza similar porém mais adocicado), porque não usar da mesmas armas pra salvar baboseiras como “Magic”, “Saying I Love You” e “Jamie Marie” da irresistível modorra?

Uma explicação talvez passe por uma suposta crença do compositor de que a veracidade da suas tristezas (Owens, você já deve saber, poderia facilmente ser um personagem do cinema) seja suficiente para tornar sua música real. E não é. Mesmo que a lírica melancólica encontre justificativa numa vida difícil, a música que, por diversas vezes, resvala na paródia, não tem lá muita explicação.

Usando as duas maiores influências da dupla, Built to Spill e Spiritualized, para tentar encontrar uma outra justificativa bem mais fantasiosa, pode-se dizer que a intenção de ser uma banda dos anos 90 foi levada à termos literais: a música aqui soa como a dessas bandas em seus discos mais recentes, vencendo mas usando o regulamento. Contudo, Christopher Owens e Chet White não tem os mesmos 30 anos de estrada. Talvez se os dois se dessem conta disso, “Father, Son, Holy Ghost” seria mais bem sucedido.