The Hives | Lex Hives

The Hives

Lex Hives

[Disque Hives; 2012]

8.0FITA RECOMENDA

ENCONTRE: iTunes

por Yuri de Castro; 15/06/2011

Amor, bandido, cachorro e trem eram, então, o que Drummond classificava como coisas que sempre voltam em nossas vidas. Destes, destaca o poeta, o amor é o único que faz o regresso com forças para brigar. Fosse popular o seu poema “Toada do Amor”, certamente ele seria revistado no século XXI com a introdução do nome de uma banda no meio desses substantivos. E, certamente, esta mesma banda caberia com louvor nos primeiros versos da paródia: o som que sai deste último álbum do Hives sugere que a banda nunca foi embora, nunca se ausentou.

Mas houve um hiato. E o regresso custou cinco anos e um álbum lançado pelas próprias mãos da banda. “Lex Hives” sucede “The Black and White Album” com o mérito do mesmo: incluindo, então, a banda em um hall (ora cafona, ora contagiante) ao lado de outras bandas que dedicam suas criatividades apenas ao que parecem destinadas – e este será um traço firme de suas biografias. Hives, esse Autoramas sueco (tente usar Ramones ou Iron Maiden, funciona também). Banda que faz discos como medalhas de honra ao mérito e que são seus melhores flyers de shows: “venham ver a melhor banda ao vivo” dizem as músicas de todos esses grupos.

Quando “1000 Answers” se destacava em meados de 2011 na playlist heterogênea (como sempre) e chapada (uma das piores da série) de FIFA 2012, não era possível vislumbrar mais do que… The Hives por ali. E isso podia ser absurdamente desmotivador pra quem acostumou-se à explosão de power-chords desde que, no mesmo balaio de gato mercadológico de Strokes e Vines, os suecos surgiram com o cenário plácido casual-vintage de “Hate To Say I Told You So” exibido em todas as MTVs do mundo. Sem concorrentes, o Strokes se consolidou na marra; o Vines fez bons clipes. Sobraria ao Hives, então, no máximo, uma lembrança ou outra em festas alternativas. Não foi o que aconteceu. O Hives não se isolou e, no bumba-meu-boi, foi emplacando pequenos hits em sua trajetória.

Em “Lex Hives”, não há isolamento. Em seu plantel, cada faixa é uma auto-afirmação para que possamos, finalmente (e sem constrangimentos), achar um Mick Jagger nos trancos em que Pelle Almqvist sustenta cada hit em potencial do repertório do álbum. Quando cantam “Tenho mil respostas, uma tem que ser a certa / Me dê mil chances e uma delas vai rolar” não deixa de ser irônico notar que os versos podem ser autobiográficos. De “Hate To Say…”  (“Veni Vidi Vicious”, 2001) a “Go Right Ahead” (single de “Lex Hives”, 2012, com direito a riff de “Don’t Bring Me Down”, da Eletric Light Orchestra), passando por “Tick Tick… Boom” e “Try Again” (ambas de “The Black and White Album”, 2007) o Hives coleciona hits e subhits escorados em matemática fácil de composição rocker. No entanto, poucas vezes a banda é leviana em sua intenção. “Lex Hives” revive a regularidade do segundo álbum que espalhou a banda pelo mundo, “Veni Vidi Vicious” e carrega consigo a capacidade de elaborar hits, habilidade que foi se comprovando a cada lançamento.

Resta, portanto, diagnosticar o futuro de uma banda que posicionou-se como ela mesma durante cinco discos. Entre reinventar-se e cair no esquecimento e fazer apenas o que sabem, os suecos garantem, ao menos, o ganha pão em mini-turnês européias. De qualquer jeito, voltando à comparação do início do texto, ainda prefiro o Autoramas – e, via Gabriel Thomas, a condução da banda para além do hardcore e do rockabilly de garagem. Mas desfrutando do impulso midiático e das brechas que o mercado oferecia em seu momento de debute e suas letras repletas de trocadilhos idiotas, sarcasmo, gritos e alegria sacana, pelo jeito, o Hives resistiu à transição frenética de estilos pela qual passaram seus contemporâneos.

Ainda sobre: se falávamos em auto-afirmação, o encarte de “Lex Hives” traz mais do que respostas em forma de crédito-piadinha: “Vocals by The Hives. Guitars by The Hives. Bass by The Hives. Drums by The Hives. Keyboards by The Hives. Produced by The Hives. Rehearsed by The Hives. Performed by The Hives. Imagined by The Hives. Realized by The Hives. From an original idea by The Hives. Based on a true story about The Hives. By for with and because of The Hives. Cover concept by The Hives. Liner notes by The Hives. Special thanks to The Hives.”