Qinho | Macia Bahia

Pela quantidade de preconceito e ódio gratuito que Qinho recebe desde o início da carreira não é estranho que ele mal tenha conseguido chegar à São Paulo. O fato de ser bonito, bem nascido, típico “garoto zona sul” fez de quinhO um alvo fácil para quem vive de odiar hypes e sua música até esse segundo disco solo (“O Tempo Soa”, lançado em pleno verão carioca) não fez muito para desfazer essa impressão.

Mesmo assim o rapaz seguiu fazendo sua arte e já na abertura de “O Tempo Soa” (disco já devidamente resenhado no Fita), mostra que pode sim virar o jogo para o seu lado. De certa forma, “Macia Bahia” parece exatamente aquilo que os haters queriam para se alimentar: uma letra com toda manha, doses da mesma sonoridade Jorge-Ben-enquanto-Jack-Johnson (o que chega perigosamente perto de Jorge Vercillo, vale dizer) e uma produção que parece vir com filtro do Instagram.

O que é mágico em “Macia Bahia” é como ele usa todas essas referências saídas de uma coleção da Osklen para fazer uma obra que desperta alguma empatia . A faixa começa com o que eu suponho que seja uma cítara, ritmo zen que é quebrado pela entrada da bateria e a guitarra djavaneante de qinhO. Já no início da letra (“Sempre quando a gente fica…”) parece que tudo está indo ladeira abaixo, mas 4 frases depois, quando chega o refrão, é quase impossível deixar “Macia Bahia” de lado. O tal refrão é possivelmente uma das coisas mais bonitas que você vai ouvir esse ano, com Qinho amaciando o ritmo da música enquanto promete mundos e fundos e projeta imagens (“nossa lua”, “nossa Bahia”, “a vida que soa”) dessa boa vida sob o sol do Arpoador.

“Macia Bahia” soa simples demais e, no entanto, conquista muito. Faz motivo de orgulho o que uma geração de artistas e marcas cariocas só conseguiram transformar em um constrangedor pastiche para turista ver. Sim, a terra apadrinhada por São Sebastião continua sendo muito mais que Ipanema, mas, em confirmidade com Caetano e Baby, finalmente dá para desejar o desejo desse menino do Rio.