Adoraria escrever sobre a íntegra deste lançamento dos porto-alegrenses do Fresno, o EP “Eu Sou A Maré Viva”. Mas, de fato, aqui e acolá neste registro, a banda conserva ainda muitos maneirismos de um gênero datado que encontra no Fresno ecos líricos em conselhos próximos aos best-sellers de auto-ajuda (“Não lute contra você mesmo, você vai ser o único a perder”, desta; ou “A sombra desse medo vai te destruir e ninguém vive a vida por você”, dessa aqui que ainda chega junto na melodia do refrão final de “Little By Little”, do Radiohead).

Há, ainda, Lucas Silveira ora americanizando a pronúncia de palavras da língua portuguesa, ora transformando a última vogal “a” das palavras em vogal “ô” (“eu sou a maré vivâôôôô”; se afogâôôrr”)– e isso, às vezes, causa embaraço para os ouvintes já não tão mais jovens.

A despeito disto tudo temos “À Prova de Balas”, faixa que inaugura “Eu Sou A Maré Viva” colocando um certo “eles” do outro lado do front. A canção pede resistência ao ouvinte (à televisão, aos que vendem) e uma banda inspirada parece disposta a tocar um certo puteiro em um gênero que se especializou, no Brasil, a ser mais contestador na pele (por meio das tatuagens) do que pelas letras ou pelo som.

Com exceção dos primeiros segundos em que Lucas Silveira e guitarra introduzem a canção, há por todos os cinco minutos uma espécie de camada feita pelas cordas de Lucas Lima e pelos teclados de Mario Camelo, Essa camada permite ao Fresno a entrada em uma atmosfera menos direta, ainda que a produção seja sempre límpida. Esse ambiente projeta e protege a letra da canção permitindo que ela não caia em um pastelão black bloc contracenado nos estúdios onde se grava a novela Malhação. O cuidado com a canção valoriza as quebras de fúria pós-refrão e evita que todo esse som passem a ideia de copos de suco de laranja da lanchonete Gigabyte.

Pelo contrário: “À Prova de Balas” talvez seja uma das melhores canções dos gaúchos que conduzem uma das poucas bandas de rock no Brasil de impacto no mainstream — e é bom lembrar que quase são irrelevantes todos os pares de gênero e geração do Fresno. No entanto, mesmo com músicas intrincadas em sua mensagem,”Eu Sou A Maré Viva” ainda é um item restrito àqueles que simpatizam com um gênero quase sempre próximo do artificial e que soa barato ainda deixe a impressão de que todo esse som é bem caro de se produzir.

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